Pais do século XXI são afectuosos, mudam fraldas e dão a papa

Artigo escrito pela jornalista Marta Cerqueira, com a colaboração da Dra. Mónica de Sousa, no Jornal I, na edição de 19 de Março de 2015



Para comemorar o dia (o Dia do Pai), o i traça o perfil do pai moderno. Ajudar a fazer os TPC ou dar banho deixaram de ser tarefas exclusivas das mães.

O pai de João Miguel Tavares nunca mudou uma fralda, o que não quer dizer que o jornalista não se tenha tornado um mestre na arte de cuidar dos filhos. Carolina, a mais velha, tem 11 anos, Tomás tem nove, Guilherme sete e Rita dois. “Consigo acompanhar todas as fases do crescimento, é como ter a vida a desenvolver--se à minha volta”, explica ao i.

Esta é a parte divertida que um pai do século xxi tem para contar. “Tudo o resto é um aborrecimento”, confessa, apesar de garantir que a “parte chata” de dar papas, escolher a roupa, pôr a dormir e dar banho é dividida de forma quase igualitária com a mulher: “Digo quase porque a mulher continua a mandar mais dentro de casa.” Esse é um poder do qual as mamãs não estão dispostas a abdicar: “E cá entre nós também não temos interesse em que elas renunciem a esse poder”, brinca.

Apesar de viver numa casa cheia, fora dela João Miguel Tavares encontra poucos espaços para partilhar vivências domésticas: “Os homens continuam a falar de gajas e futebol e não existe essa tendência para desabafar que as mulheres de-senvolveram ao longo de séculos.” É por haver pouca informação que decidiu escrever livros sobre o papel masculino na família: “Acho que aquilo que significa ser pai mudou radicalmente nos últimos 50 anos, como provavelmente não mudou nos últimos 500 anos, e ainda pouco se falou sobre isso”, defende.

As mudanças podem até ser generalizadas, mas o radialista Nuno Markl duvida que seja transversal a todos os casais com filhos: “Acredito que num país em que o papel da mulher numa casa ainda está muito enraizado subsista a ideia de que mudar fraldas seja tarefa de mãe.” O humorista é pai de Pedro, de cinco anos, e, ao contrário de João Miguel Tavares, encontra no grupo de amigos um espaço para troca de dicas sobre parentalidade. “O Bruno Nogueira contou-me que para adormecer a filha tem de ligar um secador. Já eu tinha de fazer corridas pela casa com o meu filho ao colo para que ele fizesse a sesta”, conta, entre risos.

Truques à parte, a psicóloga clínica Mónica de Sousa explica que, assim como o papel dos pais se alterou, também a forma como os filhos olham para a figura paterna foi acompanhando essa mudança: “As crianças viam os pais como uma figura ausente, que só servia para ditar regras e trazer dinheiro para casa.” A especialista acredita que hoje o pai já assume o papel historicamente associado à figura maternal, “aquela que a quem os filhos recorriam, por exemplo, para conselhos, dúvidas, que sabiam que ia cuidar deles se estivessem doentes”.

Essa papel até tem um termo clínico, acrescenta a psicóloga Marina Carvalho: “É uma figura de vinculação, aquela que assume um espaço de porto de abrigo.” Até há pouco tempo a mãe era a única a quem se colava a este conceito, “mas cada vez mais o pai é a figura que o filho considera de extrema importância na sua vida”. Para a psicóloga especializada em comportamentos de adolescentes, não está em causa gostar mais ou menos dos filhos, mas sim a forma como os afectos são demonstrados. “De figura de autoridade, o pai passou a figura de afecto.”

A mudança não aconteceu por acaso e primeiro foi preciso assistir as alterações que aconteceram no plano social, defende a psicóloga Andreia Cabral. Ou seja, o homem pode hoje mostrar o seu lado afectivo sem medo de ser olhado de lado: “Os pais sentem-se mais à vontade para mostrar carinho e preocupação com todos os aspectos que envolvam a vida dos filhos.”

Novas famílias: As três psicólogas ouvidas pelo i são unânimes em apontar a emancipação feminina como factor essencial para que o papel do pai tenha vindo a ganhar mais peso na família. “O facto de a mãe trabalhar fez com que o homem se tornasse parte activa no dia-a-dia familiar”, lembra Mónica de Sousa. Apesar de ser a menos optimista das três na hora de ver um pai mais activo, acredita que a forma como os filhos olham para os pais é diferente. “Se deixámos de ter um pai a quem as crianças tinham respeito e até medo para passar a um pai amigo, temos também outra realidade, a dos divórcios.” A especialista lembra que o facto de haver cada vez mais famílias monoparentais afasta o pai do quotidiano da criança. Além disso, vê muitas vezes a criança ser usada como moeda de troca nas discussões do casal. “Um pai que se ausenta de casa numa separação acaba por se afastar do filho”, diz, salientando, no entanto, que essa situação acontece com menos frequência nos casos de guarda partilhada, com os mesmos tempos para pais e mães.


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